Semana Mundial do Brincar: a importância de se comemorar.
Quantas boas memórias nós trazemos de nossa infância! O ato de brincar , a força do brincar, certamente perpassa essas recordações doces, suaves, intensas e, por vezes, profundas. Além das lembranças, brincar é algo inerente ao ser humano, permeia nosso cotidiano por meio de inúmeras manifestações com crianças, jovens, adultos e idosos, cada qual do seu jeito.
Nesta edição da Semana Mundial do Brincar, que segue até o próximo dia 29, o tema é “Confiar na força do brincar”, que traz em seu bojo o estímulo ao brincar crendo no potencial inquestionável para o bem-estar infantil e por que não de todos nós?
Ademais, brincar, a força do brincar é algo extremamente importante para nossa saúde física e mental que pode ser percebido sob várias óticas. Quando brincamos, somos verdadeiros, mostramos nossas características essenciais, nossos traços de personalidade, mas, para as crianças, trata-se da maior e melhor forma de ver e estar no mundo…como uma grande brincadeira.
O ato de brincar nos remonta aos primórdios, de como nós, seres humanos, nos tornamos pessoas adultas por meio de um desenvolvimento saudável. Johan Huizinga, que cunhou o conceito de Homo Ludens, um modelo explicativo segundo o qual o homem desenvolve suas habilidades sobretudo no jogo: ele descobre suas características individuais e se torna, através da experiência adquirida, um sujeito confiante e autônomo. Jogar é equiparado à liberdade de ação e pressupõe o próprio pensamento, pois o homem precisa do jogo como uma forma elementar de busca de sentido.
Mas, nesse momento pós-pandemia, comemorar a Semana do Brincar tem um sentido essencial, considerando que o ato é fundamental para o desenvolvimento psicológico e social das nossas crianças, que atravessaram momentos impensáveis, durante as quarentenas, privadas da companhia de amigos, de espaços amplos para extravasar a energia que pulsa no interior de um ser em desenvolvimento ávido de conhecer o mundo…e creiam…por meio do brincar.
Tizuko Morchida Kishimoto, uma grande estudiosa sobre o tema, nos diz que brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. Desde muito cedo as crianças se comunicam por gestos, sons e, mais tarde, a imaginação. Para Tizuko, a brincadeira possibilita que as crianças aprendam de forma prazerosa e eficaz.
São inúmeras razões para estimular a atividade e consideremos também uma abordagem muito rica, o brincar heurístico. O brincar ou jogo heurístico subverte a lógica industrializada do brinquedo pronto, sendo assim, não indica à criança, de forma implícita, o que deve ser feito, mas a instiga a ser criativa. Remete à ideia de descoberta, exploração, reconexão investigativa.
Descobrir e manipular objetos naturais em grande quantidade, como: sementes, madeira, folhas secas, areia, bambu, texturas, são exemplos. A brincadeira precisa ocorrer em liberdade e sem a intervenção do adulto, que simplesmente deve preparar o ambiente e observar.
Enfim, o brincar é tão essencial para o desenvolvimento integral do ser humano que muitos pesquisadores apontam como vital essa prática. Loris Malaguzzi, Gilles Brougère, Piaget, Vygotsky e Wallon, o qual afirmou que o brincar está para criança como o trabalho está para o adulto. Assim, se quisermos uma sociedade sadia, feliz e producente, incentivemos o brincar em todas as suas dimensões.
Susanna Artonov, pedagoga e professora de Pedagogia da Universidade São Judas.
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